Tudo bem, vou lhe contar uma história que é
passada há muito tempo por pessoas que atravessavam o deserto e rumam ao
indizível, lugares longínquos que não encontram-se no mapa, assim como nossas
vidas que não estão escritas, ainda!
Esta é uma história em verso, uma poesia nunca antes
escrita, mas sempre contada ao redor de uma fogueira por viajantes incertos,
algumas palavras foram perdidas e outras acrescentadas, mas sempre irá falar
sobre a perfeição! A cobiça, o desejo de guardar o que é belo e ter o poder!
A mais bonita das pedras preciosas, a pura beleza, algo indomável, entre outras
palavras e resumindo... Uma mulher
A Tríade
A
noite estava fria em Nurghadan e uma tempestade de
areia ameaçava vim dos confins do deserto!
Uma
muralha enorme com destino certo,
Estendia-se até o abismo do mundo.
Quando
chegasse a vila todo povoado seria varrido.
Se
não fosse por motivo abençoado, todos teriam corrido.
Na
barraca central os homens mais se olhavam do que
conversavam.
conversavam.
O
vento ululante, na noite gritava.
Soprava
constante, a morte assoviava, num frio cortante.
Enquanto
ao lado com medo nascia!
Um
bebê... Não! Dois, espere são três! A parteira dizia!
E
Correram qual criança, todos foram dar boas vindas a esta nova esperança.
Na
terra que seria castigada. Um singelo
milagre pairava.
milagre pairava.
Fínidas,
a mãe, com ternura, seus filhos olhava!
- Olha que belo trio de
criaturinhas rosa - Disse um amigo, esbarrando na parteira. - Sortudo és tu meu
velho Kindar! Venham todos ouvir as boas novas! Veremos se és tão bom escultor
e crie um seio para ajudar a sua mulher amamentar!
Todos
riram e um fogo, em brasa nasceu.
Os que estavam em casa com medo vieram. O tenebroso vento anunciou seu fim e cedeu. Todos gritavam felizes e dançaram!
Os que estavam em casa com medo vieram. O tenebroso vento anunciou seu fim e cedeu. Todos gritavam felizes e dançaram!
E
naquela noite beberam até o firmamento.
Sabendo que ao luar não teriam tormento.
Sabendo que ao luar não teriam tormento.
Cantaram
a lenda das três pequenas crianças, que o enorme vento,
assustaram!
assustaram!
Kindar
acordou ao lado de seus filhos.
Tamanha
era a sua euforia! Logo três?
Uma
façanha, como ninguém jamais o fez!
Tão
frágeis e pequeninos.
A
muito desejava alguém para sua arte ensinar.
Era o maior artista do reino de Nurghadan. Muitos com ele
Era o maior artista do reino de Nurghadan. Muitos com ele
aprenderam a esculpir e pintar. Sua obra era desejava
por
nobres.
Exposto
em templos e no real castelo.
Sempre
humilde, Kindar tinha apreço pelos mais pobres. E
ensinava os que não podiam
pagá-lo.
E
agora três filhos! Sua mente, um puro devaneio, acordou. Mas
por horas, como
vertigem, apenas vagou.
Ficou a observar
seus filhos que tanto queria amar e desejava ensinar.
Longos
dias se passaram.
Noites
rápidas, ao sabor do vento. Com eles anos e
seus filhos cresceram. Poucas luas
marcaram o
tempo.
Refrescando
as areias que aos homens, tanto castigavam.
E
sua filha, na irá dos Deuses também fora punida.
Tal flor de lótus que nasce faltando uma pétala.
Tal flor de lótus que nasce faltando uma pétala.
Logo
ao ser concebida, herdou uma perna machucada.
Sophy, a menina. Como Tholus, não era forte.
Sophy, a menina. Como Tholus, não era forte.
O
irmão podia livremente andar, ela não teve a mesma sorte.
Nem
sorria o tempo todo e estava a brincar como Farchol O
alegre e sorridente irmão
mais novo.
Tinha
uma voz doce, feito rouxinol.
A
ele tinha admiração, o mais velho que era um estorvo.
Sempre soturno e quieto
Olhava
estranho para a criança. Não gostava
de tê-la por perto.
Dizia
que sua perna nunca teria esperança.
Kindar,
dela nunca desistiu.
Foram mandados mensageiros
Foram mandados mensageiros
Todos
o conheciam e queriam ajudar.
Percorreram
o vasto deserto a procura de curandeiros.
Através de reinos distantes viajaram.
Em
vão, sobre tal enfermidade, nada encontraram.
- Esta
casa esta doente, ate mesmo pequenos monstros são tratados como gente! -
Resmungou Tholus com inveja.
- Nunca
diga tal coisa irmão! Temos de viajar, mas ao voltar não quero ver nossa irmã
na cama deitada, qual pétala que no outono vai ao chão!
Cinco
verões se passaram.
Tão
pouco de tempo existiu.
Nem
mesmo pegadas deixaram.
Imutável
era aquele deserto.
O
povo dizia que estava protegido isto era certo.
Mas
por qual obra divina não sabemos.
Se
tantas tempestades já sofremos.
Como
explicar tal calmaria?
Milagre?
Ou obra de bruxaria?
Retornaram
adultos! Farchol não queria mais viajar
Queria
pintar e esculpir, mas jamais de sua família se separar.
Percebeu que perto de
casa, muito tinha a aprender.
Da
janela vinha o vento te refrescar e no quintal o Sol para te aquecer.
Também
sonhava que as cores de Van Gogh pudessem ser reais!
Já
o irmão mais velho, Tholus, não via a hora de voltar aos
estudos.
Treinaria
excessivamente!
Abraçou
Michelangelo! Suas obras fascinavam sua mente.
Pintava, com uma anatomia
vitruviana, eram corpos perfeitos.
Leu sobre guerras, sobre homens corajosos e
seus feitos.
A
Delacroix encaminhou, por tal perjúrio, uma ofensa. Não
acreditar na perfeição
era uma descrença.
Então
um dia, os filhos voltaram,
Kindar
orgulhoso olhava os com admiração!
Os
filhos gêmeos, poucos diriam tal barbaridade,
Em nada pareciam, só tinham a mesma idade,
Em nada pareciam, só tinham a mesma idade,
Já
eram homens, o pai de barba branca.
Um cajado que o próprio fez, um ancião.
Fínidas a mulher, não parava de chorar,
Um cajado que o próprio fez, um ancião.
Fínidas a mulher, não parava de chorar,
Pensava
que tudo poderia voltar a ser como antes.
A marca da velhice no rosto e lágrimas a enxugar,
Nas pernas a cicatriz dos anos,
A marca da velhice no rosto e lágrimas a enxugar,
Nas pernas a cicatriz dos anos,
Dor
nenhuma lhe tiraria o afeto que tinha por seus meninos.
Farchol
esperando ver uma mulher formada
Tamanha era a saudade da pequena irmã.
Tamanha era a saudade da pequena irmã.
Só
observou que na cama, alguém estava deitada,
Ouvindo seu nome chamar.
Uma
criança! Não era a irmã que esperava encontrar.
Bela, sim era e
sempre seria, mas tão pequena! E com pernas de
que nada servia.
Sua
mão se mostrava talentosa,
Herança
do pai, desenhava com tal forma graciosa!
Na
parede a ostentar, Flores de Lótus que ela e o pai vieram a
pintar.
O
filho mais velho pouco ficou, nem mais uma noite esperou.
Realizaria o sonho de
seu pai, seria o mais perfeito escultor que já
existiu!
A
estadia foi breve, não tinha tempo a perder, pouco para falar.
Como nuvens
passageiras, chegou e logo partiu.
Pensaram
que nunca mais veriam o irmão,
Pois
em um mundo mágico, só há relatos trágicos. Daqueles
que buscam e morrem atrás
de perfeição
Mas cegos e loucos,
Mas cegos e loucos,
vagam aqueles que têm ambição.
Havendo tantos, não são poucos, se não ao próximo.
Para si próprio encontram a perdição.
Havendo tantos, não são poucos, se não ao próximo.
Para si próprio encontram a perdição.
Em
casa, reinava paz e harmonia. Dentro, até
mesmo a garota doente sorria
Enquanto
os presságios de tempestades, destruidoras
desapareciam.
No
vilarejo nunca prosperaram tanto, época feliz para um povo
castigado que
sofria.
Mas
como o povo gosta de dizer. Muralhas de
pedras sempre desabavam.
E
até a Lua, na mais escura e agourenta das noites, irá se
esconder.
Não
se sabe se é obra divina, ou apenas bruxaria, mas algo
protege a vila e fere a
pobre menina.
A
solidão aperta até mesmo o coração do homem mais valente.
Sem notícias de casa,
de repente...
Bate
uma saudade, do que não viveu.
E
Tholus já com boa idade, resolve voltar.
Por
toda a noite o deserto frio e infinito percorreu Mas...
Logo
na entrada se esbraveja! Uma estátua sua visão alveja
Pensou que ver tal
monstruosidade não pudesse ser capaz
Metade águia e metade mulher, na cabeça
uma flor de lótus
vermelha.
Á
pinturas egípcias, esta grotesca pincelada tosca não se
assemelha!
- Meu
filho que bom que voltou! Por que há tanto tempo nenhuma carta mandou?
- Então
está é a estatua que irão ver todos os viajantes que a esta vila vierem ter?
- Todos
ajudaram, tentei te encontrar, mandei cartas, mas elas retornaram! Foi o
ultimo... - Demorou em dizer estas palavras -
O ultimo trabalho
de sua irmã, com um corpo frágil adoeceu, e sua
mãe... Ontem à tarde... Ela...
Morreu! Por favor, fique com a
gente!
gente!
Uma tempestade se aproxima o vento esta
diferente!
-
Jamais! Com tal afronta não poderei aqui viver! Nunca buscaria
abrigo em toca de
chacais! Posso sobreviver, vagarei pelo deserto,
percorrerei por um caminho
incerto, pois aqui não volto mais.
E
no deserto adentrou, ajoelhado aos prantos, seu pai, na vila
ficou.
Sabia
que não veria mais o filho com vida. Justo
agora que com a falta de sua mulher.
Sua casa
estava tão sofrida.
estava tão sofrida.
Uma
filha doente, o outro desanimado.
Estaria tudo assim, arruinado?
Estaria tudo assim, arruinado?
Numa
caverna se refugiou, fatigado e com a Lua ao alto, para o
lugar nem olhou,
afastando a claridade que o cegava, seus olhos abriram.
Não
qual fogo do céu. A morada de Osíris! Era o azul das
pedras que reluziam.
O lindo
Lápis-lazúli. Em tal vislumbre se sentiu imortal!
Finalmente teria a sua chance
de mostrar sua perfeição! Destruiria aquela estatua bestial e criaria a mais
linda joia que já existiu!
Um
marco para a arte, a máxima criação.
A
bela e esquecida, uma flor de lótus azul anil.
Dentro
da funda caverna, não via o tempo passar, De
imediato começou na pedra,
trabalhar.
Tanto
que por um longo tempo só viu três vezes um pássaro
passar.
Na primeira,
quando dera voo de seu ninho no alto da tamareira. Na segunda, buscava abrigo
para o filho que num ovo a vida fecunda.
Terceira
e ultima já inverno e doente, sabia que não teria próxima.
Por
que na quarta, vestiria o preto terno e dormiria eternamente.
Exilado
nesta concha que era banhada por uma areia misteriosa e
atemporal.
Sua
obra terminou, qual louco com um sorriso senil admirou. A flor azul brilhante!
Antes de gritar estupefato que era perfeito Percebeu com espanto que olhando
direito,
Podendo
confiar em seus olhos, anulando qualquer miragem. Nela algo refletia uma sombra
fosca criando uma real imagem
Sua mente agora derretia, o pior de seus pesadelos, seus monstros em devaneios.
Sua mente agora derretia, o pior de seus pesadelos, seus monstros em devaneios.
Era
sua irmã que em cerúleo reluzia!
Uma
maldição! Sua mão ficou fraca e dela a flor caia.
Uma
pétala de cor celeste, Ao lado, morta jazia! Inerte... Sua
mente se desfazia.
Gritou
feito mandrágora! Quando sua consciência recobrou,
Correu!
Sentia que a vida se esvaia... Chorou
Mas com a tempestade a seu encalço não pararia!
Mas com a tempestade a seu encalço não pararia!
Percebeu
que não poderia ser perfeito, enquanto na terra, sua
irmã vivia.
Olhava
com irá e desespero para sua escultura, enquanto, a esta
altura.
Todas
suas pegadas haviam sido apagadas. Tentou lembrar-se de tudo que na vida havia
feito
Não
se lembrou de imediato, seu oficio era ser perfeito.
Nunca tinha podido exercer
sua profissão.
Por
ser uma metade, enquanto houvesse irmã e irmão.
Tholus
parte, passos leves e pesados. Marcha para a batalha, que fosse a última!
Alguém
precisava morrer, ou todos estariam arruinados. E ele
não viajaria para ser
vítima.
O
deserto sentia a vibração
Soprava
forte! O forte homem ia contra o vento. Podia se ouvir vozes, de terror,
danação.
Todos
correram, livraram-se os que estavam por perto.
Ao longe
avistaram as pessoas que em suas casas se trancavam. Em direção à antiga casa,
uma neblina nostálgica soprou. Quebrando o silêncio e a paz, a porta arrombou.
Farchol
sabia que a morte era esperada e sua irmã abraçou.
Choraram esperando seu
irmão, seu assassino.
- Poupe
nos Tholus! De nossas veias corre a mesma essência - dizia Farchol esperando
clemência.
- Sempre
algo ira faltar! Vocês não percebem? Todos mimando um monstro enquanto sofrem!
Tu és um fraco meu irmão, para ser perfeito não á outro modo preciso matar-te!
Os
gritos se misturaram a cores rubras que a parede pintaram.
Marcas de uma
incerteza sofrida, o abandono da vida.
De
todo um tempo vazio, em um deserto sem Lua, apenas frio.
O vento prosseguia seu caminho prometido,
O vento prosseguia seu caminho prometido,
Varrendo
como poeira a bela cidade a toda encobriu.
Nada se sabe ao certo, mas o povo gosta de dizer.
Nada se sabe ao certo, mas o povo gosta de dizer.
Que
se a criança morresse outra coisa não iria acontecer.
Viajantes
procuraram a cidade perdida, Em busca
de algo valioso.
Mas
agora só se encontra em ruínas, uma cidade insólita. O
que se tira é algo
doloroso, e muito misterioso.
As
lendas contam que em busca de perfeição
Um homem foi capaz de matar o próprio irmão
Mas sua obra nunca fora encontrada.
Um homem foi capaz de matar o próprio irmão
Mas sua obra nunca fora encontrada.
Tudo
culpa de uma flor imperfeita, uma pétala quebrada.