Depois que
eu nasci, meus pais não conseguiram mais ter filhos, mas como eu queria um
irmão a única opção foi a adoção. Quando o menino chegou tudo era perfeito, ele
sorria e brincava, só que a noite quando a gente estava sozinho no quarto ele não precisava mais fingir.
No começo
foi difícil aceitar que ele fosse estranho, eu tentei falar com meus pais e
como eu era muito novo na época cheguei ate a dizer que ele tinha vindo com
defeito. Essa frase inocente porem descuidada me rendeu vários meses no
psicólogo. Não vou dizer que foi uma experiência ruim eu até achava legal
conversar com a Doutora Tatiane, só era chato ela insistir nessa historia de
que é normal filho único estranhar quando outra pessoa chega à sua casa e
“rouba” tudo o que é seu. Droga! Esse não e o meu caso, eu queria um irmão,
queria compartilhar meus brinquedos e até meu vídeo game – Às vezes, é claro –
Não seria por isso que eu passaria o resto da vida em negação! Meu irmão ele...
Ele não era humano.
Eu não sabia
o que ele era só sabia o que ele não era,
a porcariazinha nem sequer dormia! Várias vezes eu virei para o lado e vi ele
com os olhos aberto olhando para o teto, que
minha mãe tinha enfeitado para a gente, era só apagar a luz que o quarto
ganhava novas cores, eram vários desenhos fosforescentes brilhando no escuro da
noite, desenhos inocentes, animais, estrelas e planetas, foi ai então que eu
tive a ideia de que ele fosse um
alienígena.
Ele era
fissurado por essas estrelas, não era possível dormir todas as noites de olhos
abertos, estranhisse tem limites, pelo menos deveria ter. Eu fiquei triste por
meus pais, quando estavam perto o menino era perfeito, fazia tudo o que
mandavam e ta ai mais uma pista, que filho faz tudo que os pais mandam? Ele não
tinha a malícia do ser humano, pelo menos por enquanto e quando ele ficasse
mais velho e fosse chamado para seu planeta? Ou uma missão de invasão, eu não
sei. Eu tinha medo de pensar nessas coisas perto dele, mas não podia
simplesmente parar de pensar, se ele pudesse ler meus pensamentos eu tava
ferrado, eu não podia fazer nada, ele era o filho normal e se alguém era de
fora, esse alguém seria eu, o filho paranóico... O lunático.
A noite era
o momento mais difícil, ele era do tipo quietão e era incomodo o ambiente, meu irmão falava apenas com meus pais e
nunca comigo, a gente só brincava quando alguém estava olhando. Foi mais ou
menos quando fiz quatorze anos que eu comecei a ter pesadelos. Todos os dias eu
e o Lucas – meu irmão ET – flutuávamos por um lugar estranho e surreal. Sei que
sou novo e não conheço todo o meu planeta, mas desconheço que na Terra tenha
montanhas que flutuem sobre as colinas. De fato não eram pesadelos, o que me
atormentava era o sorriso cruel de meu irmão e para tornar aquela imagem fixa
na minha mente, algo que nunca mais poderia sair - Teria que ser exorcizada, ou
Eterozixada se é que existe algo assim- E sempre me trará momento de pavor, foi
quando eu estava em um sonho e o meu
telefone tocou e logo acordei, quando me
virei para pegar o aparelho vi aquele mesmo sorriso maligno, um sorriso que
jamais poderia ser uma expressão humana, era como se o Jack Nicholson tivesse
te mandando para o inferno sem dizer palavra alguma. Here is Johnny! Here is Lucas!
Seu irmão alienígena, você sabe sobre a gente, mas não pode fazer nada. Era um
sorriso de deboche, um descaso com a raça humana. Sai de casa, só que nunca
mais pude dormir tranquilamente em lugar algum.
Era uma
pena, eu que admirava tanto esse tema, quando finalmente chega um Alienígena na
minha casa não é o que eu espero, não que eu tivesse o sonho infantil de
flutuar ao luar junto a um ET com um brilho branco no dedo, mas eu não esperava
que fosse algo falso com um brilho negro no olhar. Fugi de casa, morei fora por
três meses até meus pais me acharem, todo sujo e doente a muitos quilômetros de
distância. Eu não podia parar, primeiro fui atrás da casa de adoção que enviou
meu “irmão” e tive a felicidade de saber que ela não existia mais, fiquei feliz
na hora, mas sabia que eles estavam em outro lugar, vai saber quantos outros
lugares e se realmente existisse alguma casa de adoção que não fosse para
colocar filhos alienígenas nas nossas casas, era o plano perfeito, você não
sabia da onde vinha a criança, só queria ama-la, eles se aproveitavam da nosso
maior qualidade, o amor. Eu simplesmente não podia ir entrando nessas casas sem
permissão. Foi nessa hora que eu descobri o que eu queria ser quando crescesse
Assistente social, só para garantir que nenhuma família sofresse o que eu sofri
e sei que ainda vou sofrer. Meus pais estão me levando para casa e aquele já
não é mais meu lar, nem este planeta parece ser meu mais, estou perdido e não
tenho aonde ir.
Eu não podia
vencer essa guerra, mas se fosse para ter uma batalha, essa seria com aquele
infiltrado! Eu não iria mais ter paz em lugar nenhum, precisava acabar com essa
angústia e ter uma noite de sono, eu precisava matar meu irmão. Voltei para
casa e passei algum tempo fingindo, se ele podia, eu também podia. Precisava
dizer que estava tudo bem, tinha passado a fase de garoto adolescente rebelde,
agora “estava tudo bem”. Precisei enfrentar aquele sorriso maligno por vários
meses, dormir no mesmo quarto daquele ser estranho que estava ali para tirar a
minha família de mim. Precisava ser feito, pelo menos até meus pais se
acalmarem e deixarem a gente fechar a porta à noite.
E numa
noite, quando eu acordei de um pesadelo, vi que ele estava me olhando com
aquele olhar... AQUELE OLHAR! Não
aguentei mais, peguei o travesseiro e voei nele, usei toda a força que eu
tinha, sufoquei aquele alienígena imundo, vi seu corpo mole deitado na cama que
deveria ser do meu irmão. Quando passou a euforia chorei, tudo o que eu mais
queria era um amigo e agora isso, o consolo foi que ele não era meu irmão e eu
estava salvando a Terra. Esta foi a única noite em anos que eu dormi em paz.
Dormi tanto
que acordei atrasado para a escola, olhei para o lado e meu irm... O Et Lucas
não estava mais lá, droga! Meus pais deviam ter chamado a policia e estavam me
esperando, olhei para a janela e não vi nada, estavam escondidos! Desci as
escadas em passos curtos e demorados, eu estava com medo, não queria ir para a
cadeia, mas talvez já tivessem feito à autopsia e confirmaram uma vida
desconhecida e eu seria um herói, com esse pensamento desci as escadas e...
Tudo parou e começou a girar, vi meu pai, minha mãe e... Meu irmão tomando café! Como se nada tivesse
acontecido, desmaiei.
Acordei no
hospital com meu irmão falando “Mamãe, mamãe o Gu” Era a forma dele mostrar
carinho por mim, mas apenas quando meus pais estavam perto. “Ele acordou”. “Que
ótimo meu filho, você esta bem? Você caiu da escada e desmaiou, o médico disse
que você quase se quebrou todo, não tem se alimentado direito? Porque não come
nas horas certas como seu irmão? Você é o mais velho, deveria ensina-lo e não
ao contrario”. Disse, a pobrezinha da minha mãe.
Nem ouvi o resto
do que minha mãe disse de tanta raiva, agora que estava recobrando os sentidos
via aquele monstro do meu lado como se nada tivesse acontecido, como ele poderia
estar ali?! Ele estava morto! – Comecei a chorar – não podia fazer nada, estava
tudo perdido, a Terra seria invadida, tinha de aceitar o fato de ter um alienígena
morando na minha casa e ainda por cima minha mãe gostava mais dele do que de
mim.